Temporais
Vozes velozes agitam as ventanias.
Enquanto isso, o raio vibra no punho de Zeus, pronto a eletrificar o chão. O
carro de Hélio não cruza o manto de Nut. Sobre os cúmulos densos e escurecidos,
ouvem-se os cascos das montarias das Valquírias. Haverá heróis mortos e será
preciso resgatá-los do solo sangrento.
A tormenta se aproxima.
Assustadora e violenta, vem arrasar a valentia de qualquer mortal. E os mais
bravos correm e se escondem com medo do vento que murmura, lamenta, canta sua
canção funesta. As velhas despejam sua ladainha de sortilégios na tentativa de
afastar a força do tempo.
Nada adianta, todavia. Cada qual
sabe que é preciso cautela. Até os mais jovens e impetuosos se encolherão sob
suas camas, apavorados. Cascatas descerão do céu e arrastarão palha e pedra. As
Fúrias estarão soltas, nenhuma culpa passará impune ao julgamento de Anúbis.
E só depois da tormenta
satisfeita o sol voltará a brilhar. Só depois de devorar a vida da terra a fome
das águas deixará o azul voltar e o disco de Aton iluminar os que se salvaram
do desastre. E tudo em torno retornará ao termo. Os valentes sairão dos catres,
renovados e envaidecidos.
Foi só mais um temporal!
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Besos.