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Mostrando postagens de setembro, 2013

Ele me perguntou o que é o amor

Amor... amor é querer o bem do outro mais do que o nosso. Amor é se preocupar mais com ele... é fazer a comida que ele gosta, por mais q você odeie. Amor é andar de mãos dadas no percurso que vai da sala pra cozinha. A mor é dizer boa noite toda noite, e bom dia toda manhã. Por um mês, cinco anos, duas d écadas... Amor é vê-lo fazer a barba todo dia e ainda achá-lo lindo cheio de espuma na cara... Amor é fazer um cafuné enquanto ele está dormindo e nem sabe que você está ali. Amor é ele ficar gordo e você ainda "ver" a cintura... em algum lugar da memória. Amor é identificar as vinte formas de sorrir que ele tem. É saber decifrar cada suspiro e ruga preocupada na testa. Amor é fazer faxina juntos... reclamar juntos... fazer aniversário juntos, mesmo que só um lembre da data... Amor é ver filme chato junto e reclamar ao mesmo tempo. Amor é olhar pra ele e sorrir sozinho... é lembrar dele e sorrir sozinho... é esperar por ele e ainda sorrir sozinho. A

Sonâmbula

Como eu posso dormir com o cheiro dele entranhado na minha pele? Como não sentir o peito arder de saudade? Tão pouco tempo, tanta espera... Será ele o Homem de Areia que vem desencaixar meus sonhos? Será minha sina, meu desespero? Serei eu apenas mais um alvo débil dessa maldade tão sórdida em forma de Segredo? Os demônios – dizem – não sabem mesmo amar... Será Eros vingando-se de Psique? Será a ira de Marte sobre Vênus? Serei eu a virgem em sacrifício ao deus do ego, da sedução? Dizem que deuses também não aprendem a amar. Deuses só desejam, assim como os anjos... Seres estelares que se regozijam no sofrimento de meros mortais. Suscetíveis mortais... Esses que amam, que se doem, que vertem lágrimas adornadas de saudade... Anjo-tirano, não sabe que me deixou ainda mais só? Que levou consigo minha paz de espírito, meu espírito, minha parte mais forte? Que amputou de mim minha vontade... Essa vontade que agora é dele, é por ele, arcanjo que habita o sal da terra... Senhor de

Página Virada

Adeus, meus amores. Venho apenas para me despedir. Olhar o semblante de cada um e relembrar cada bom momento, pequeno que seja... Cada minuto de alegria, de riso solto, de prazer partilhado. Cada pequeno segundo doce de aconchego. Venho despedir-me disso tudo. O passado não volta. Segue na memória, nada mais. Volto aqui uma última vez para dizer o quão importantes foram todos. Mas que, de agora em diante, tudo se torna em lembranças boas. Não há mais espaço ou tempo para tentativas ou incursões. Já basta de insinuações, convites que nunca se darão. Já é tempo de deixar para trás o que não foi real. Despeço-me com um sorriso de agradecimento. Sim, sou grata. Ao menino tão jovem e tão belo que me fez sentir o fogo do desejo. Sou grata ao amigo que não ousou avançar qualquer sinal. Esse que me deu seu respeito mais profundo. Grata ao homem que abriu mão de mim por minha felicidade. Esse que me amou, acima de tudo, pelo que sou. A todos esses homens, a todos esses quereres

Refúgio

Uma catedral gótica e seus vitrais coloridos e sua torres pontiagudas e cinzentas. Um santuário de ouro repleto de imagens de santos penitentes e anjos armados com espadas. Nave e altar, templo austero... Ou o simples deitar da cabeça em teu peito e esquecer a vida lá fora. Gruta oculta na montanha mais íngreme. Caverna escura revestida de pontas de gelo. Cânticos dos monges a louvar a essência, a não-existência. Local de cura das almas que se perderam na tempestade dos dias.... Ou só um beijo de teus lábios em minha fronte, doce e terno, eterno, manso. Claustro ou catacumba. Estrada vazia, soleira. Um lugar para recuperar a força, remendar a armadura, chorar a batalha perdida ou vencida. Prantear os mortos, as nossas mortes tantas. Um ponto de fuga, um portal... Ou simplesmente o calor dos teus braços macios ao meu redor, protetores, a embalar meu sono. Cada passo em falso leva ao mesmo caminho. Cada dor, cada fagulha, cada mágoa. Cada derradeiro desejo vertido ou con

O Voo da Águia

Eu que te observo flanando, asas abertas douradas contra o azul do céu do deserto... Eu que te vejo mergulhando no vazio tal qual flecha disparada do arco... Eu que te acompanho no ataque implacável à presa... Eu que te espero descer, quando o sol toca na areia, para te aconchegares contra o frio da noite... É quando a lua ganha a grandeza do firmamento e toda as vozes se calam... É quando te recebo em mim, pronta e disposta a ser tua muralha... É quando me procuras com as penas cansadas... É quando sou teu ninho, e entre graveto e sombra te escondo. É quando recostas tua cabeça em mim e sonhas que voas outra vez.... Só assim te tenho em meu colo... Só assim te acarinho sem que percebas meu afago... Só assim posso olhar-te tão de perto e ver em ti toda a beleza da liberdade... Só assim tenho para mim uma pequena parte de tua vida nômade... Só assim posso sentir teu calor a me esquentar como a brisa morna de primavera... Eu que sou a força que te protege até que o sol n

A Ausência da Voz

Ando surda. O mundo já não profere sílaba. Ando muda, nenhuma palavra me transcreve. Ando, em vão, buscando teu verbo, teu ego, teus sons. Essa omissão de dizeres me fere os sentidos. Já não ouço nada... Quero a tua fala a me confessar segredos sussurrados. Quero tua risada a preencher meu peito. Quero teu timbre a embalar as batidas do meu coração. Quero, preciso, ouvir tua voz. Só a lembrança retumba teus ais. Parece que o universo retrocede. Nenhuma tecnologia é capaz de te alcançar. Preciso escutar tua histórias, teus mito, teu medos. Preciso sentir tua respiração próxima à minha. Quero confidências, suspiros, gemidos. Só não quero mais esse silêncio que me atordoa. Essa quietude que em nada me traz a paz. Dolorosa essa espera tão quieta pela tua volta, pela tua voz a me dizer tudo que quero escutar. Ou a não me dizer nada...

Arcanjo Primordial

Salmos jamais serão entoados em teu nome. E se fossem, tu gargalharias de todos os versos hipócritas. Chamas de velas pedintes jamais te alcançarão. Joelhos penitentes não te comovem. Parcas ilusões incapazes de te ascender à luz. A mesma luz da qual declinaste por teu reino blasfemo. Anjo caído primordial. Em tuas asas soturnas repousa o sangue paternal da humanidade. Em cada pecado do mundo, resides incógnito. Em cada desejo velado e ardente, lá estás. Criatura dotada da chama divina, do poder do convencimento, da palavra que encanta! Diz, e te obedeceremos, arcanjo negro! Todos nós, tua prole. Muito além de deidade servil, foste comandante do primeiro exército celeste. Consorte da mãe de todos os demônios, tu ousaste ser a víbora anfitriã da cria do filho de Deus. É teu o poder da atração, da lábia, da sede da pele. É teu o ato extremo de seduzir! É teu o filho renegado e assassino que povoou o plano terrestre. Somos teus gratos filhos, pai! Alma de serpente, verbo

Saudades de Ti

Saudade de ti. Saudade, saudade! Oh, Deus. O que mais posso dizer?... Saudade. Que sentimento tão cítrico esse... Saudade de ti, anjo... Meu anjo. Meu? Será? Sentimento adverso. Ao mesmo tempo em que nos prende em recordações – e eu lembro o teu sorriso, o teu jeito forte de olhar pra mim, tuas mãos tão próximas, a fala comedida, o aveludado da voz –, traz também o sabor amargo da distância. Essa ausência do calor da tua presença, essa falta que me faz olhar pra ti de tão perto. Do outro lado da mesa... É, estou com saudade. Saudade de ouvir todas as coisas interessantes que tu tens a dizer. Saudade de um prato de bolinhos de chuva. Saudade da possibilidade de uma escorregada tua, de um olhar mais profundo... Saudade desse sentimento de posse que tu já tens sobre mim. Sim, tu sabes que tens. Meu anjo, meu demônio. Meu veneno! Espero cada segundo essa saudade passar. Só que a saudade também é sentimento mesquinho. Dói na alma, macula a mente, destroça a lembrança. O que

Ensueño

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Te procuro de noite. Naquela hora em que só eu e o travesseiro sabemos o que se passa no fundo da consciência. Te busco em sonhos lúcidos, em devaneios solitários que te trazem pra mais perto. Quase tão perto de mim. Te vejo de olhos fechados, como se a distância entre nós não passasse de um esticar de dedos... Sentes? Meu dia desperta ainda sonhando contigo. Ensueño ensaiado, performático. Quase acaso, quase ocaso. Desertos de recordações, porque nosso passado não era nosso. E não éramos nós dois nesse antes. Distância dos anos, distância do tempo, distância dos corpos. Somente a brisa a me trazer teu perfume e levar o meu até onde estás... Sentes? Mesmo assim, tão longe, cultivamos, tu e eu, uma sintonia fina, refinada. Uma teia translúcida e etérea que nos conecta. Que separação tão doce essa que nos fez tão mais juntos. O pensamento aconchegando o que o afago não pode alcançar. Um carinho na saudade que nasce tão terna, tão sem querer. Um abraço cósmico... Sentes?