Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2013

Vazios Aniquilados

Tive todas as “coisas” que quis ter na vida. Conquistei frescuras, brinquedos, tecnologias. Adquiri objetos úteis e inúteis, fúteis e necessários. Tive compensações e descompassos. Tudo eu tive de artefatos. Mas as pessoas... essas eu não tive todas. Algumas eu quis por princípio, por ego, por conquista. Outras eu quis apenas por vaidade. Dessas tantas, talvez tenha tido todas... Mas vieram aquelas que eu quis por mim. Aquelas que eu quis por bem. Essas fugiram, escaparam... Não reclamo. Tive muitas e marcantes personalidades junto a mim. Rostos e mentes especialíssimos. Que me trouxeram melhorias indiscutíveis. Que me preservaram, que me renovaram. Me compreenderam. Mas aquelas que não tive, as inatingíveis, me fazem falta. Não porque não as conquistei. Mas porque eram as certas, as que se encaixariam em definitivo nessas lacunas do coração. As que tornariam a vida menos cinza, menos métrica. Algumas que desapareceram no vento. Voaram para onde jamais eu poderia a

Fria análise sobre o realismo debelado

Crises sensoriais são quase sempre redundantes e recorrentes numa sociedade cada vez mais virtualizada, cada vez mais voltada ao próprio umbigo, já acostumada às comodidades assépticas e incompartilháveis. Os egocentrismos se expandem conforme a velocidade dos modens. As mesmas ferramentas que fazem de nós seres sociais, nos encarceram na mesmice do universo das redes. O individualismo exasperado, buscado à custa ou à revelia dos contatos pessoais, tende a tornar confortável um simples click. A cada conversa, a digitação; em cada sorriso, um emoticon. E é nesse cenário fictício que nos convencemos de que somos queridos, de que temos amigos, de que estamos na companhia de outrem. É também nesse contexto que a solidão nos enreda com seus tentáculos invisíveis. Dos quais apenas nos apercebemos quando já é tarde demais. Quando já nos sufoca a distância do semelhante. Quando beiramos a insanidade ao sorrir para a tela, ao conversar com o iPhone, ao não-ser se não estivermos onl

Só que não!

Sim, eu posso. Tudo o que você quiser, eu posso. Tudo o que você me pedir, me exigir. Tudo o que desejar. Tudo eu posso. Só não quero. Sim, eu tenho. Tenho saudades de você. Tenho desejo por você. Tenho vontade de me entregar a cada segundo do meu dia. Só não vou. Sim, eu gosto de você. Sim, estou apaixonada. Sim, eu ousarei dizer as três palavrinhas proibidas. Sim! Eu te amo! Só cansei. Sim, eu entendo. Cada explicação, eu entendo. Cada esquiva, cada desculpa. Cada discurso libertário, ordinário, tudo eu entendo. Só não concordo. Sim, eu ainda te quero. Eu ainda te espero. Eu ainda vou estar aqui quando você ligar. E você vai ligar. Só que, dessa vez, eu posso não atender.

Poesia

Já dizia o poeta que amor é fogo que arde sem se ver... Queria ser um pouco Camões nesses momentos de lucidez. O delirar da pena manchando de tinta o papel avulso. Compromissado apenas com o próprio criar onírico... Mas, quem sou eu para tal comparação?... Um grão minúsculo de areia é o que sou, comparada à vastidão de praias do poetizar... Nunca fui poetiza de fato. Sou só alguém que verte palavras sem muito sentido. Carentes de significado. Dando-se significância além da conta. Tudo que tenho é o sonhar... Lúdico sonho lúcido, doce saborear dos devaneios... Cabe, em parte, em mim, esse rejuvenescer da poesia. Cabe em minha mente o mágico mundo das estrofes cadenciadas. Contudo, não me atreverei a rimar, já que a métrica desmanda de minhas linhas. Já que a fonte de meus versos se esvai tal qual fumaça no vento... Instante eterno esse da fumaça alcançando o espaço e se desfazendo, se despedaçando. Desintegrando como os sentimentos que vagam por mim. Ou será que basta a

Será?

Imagem
Eu tentei... Juro que tentei... mas impossível não pensar em você. Tentei com todas as forças, fiz o meu melhor. Alucinei. Nada. Minha mente teima em voltar pra você a cada instante vago de questionamento. Sabe o que é isso? Tentar e não poder? Persistir e não conseguir? É mais forte do que eu, do que a minha vontade. E note que a minha vontade é tudo! Você consegue conceber tal desacerto? Essa impossibilidade incapacitante? Pois é! Fiz tudo o que podia ter feito. Bebi copos, beijei bocas, rocei corpos alheios, enfim... Minha mente corria pra você ao final de cada tentativa – ou no meio delas! Corria gritando seu nome... buscando seus olhos... mas não era você... que triste. Triste saber que não posso me libertar de você, de sua presença, de sua lembrança... Triste saber que você não dá a mínima pra todo esse meu sonhar. Que, pra você, está tudo certo, tudo bem... Nada está bem, meu amor, porque você não está aqui... Só sei de uma coisa ao certo. Sei que sinto sua

Deleite

O veio rubro latejante se projetava por entre os montes brancos que eram os seios. A fina linha abria seu caminho em ondas cadenciadas, fluindo por sobre o colo perfumado e manchando sem pudores a renda do decote. O peito arfava de forma quase imperceptível enquanto os lábios entreabertos perdiam lentamente seu ardor róseo. A dama dormia, inebriada pelo vinho que se lhe escapava do hálito. Serena como uma flor eternizada numa natureza morta, ela jazia entre as almofadas macias do divã. A pele já quase tão pálida quanto seu vestido enfeitado com pequeninas fitas cor de pérola, contrastando apenas com o negro azulado dos cabelos crespos, presos dignamente num coque no alto da cabeça. A sala, iluminada por candelabros de bronze, trazia tapeçarias coloridas nas paredes e figuras florais nos quadros suspensos; tudo parecendo dançar à luz de tantas velas. Nessa claridade difusa, a dama tornava-se ainda mais irreal, quase etérea, uma carapaça translúcida que apenas no frescor da apar

De quantas maneiras devo dizer que te amo?

Imagem
O ímpeto me manda escrever. O que posso dizer? Já me faltam palavras... Sim, faltam verbos, advérbios, sujeitos, adjetivos. Falta essência enquanto transborda sentimento... Não sou poetiza. Não sou Sibila, não sou pitonisa.... sou apenas alguém comum que sente comumente... Tu entendes? Sou tão rasa quanto qualquer veio d’água em que pisas displicente. Sou tão pouco como qualquer arredor sem paisagem. Sou, sim, aquela que se projeta diferente. Sou só isso. Para ser única a teus olhos, meu amor. Me fragilizo e não percebes. Me dispo e não me queres. Me supero e só então prendes teu olhar em mim. Posto que minha condição – de fêmea, de frágil, de materna – me tira a possibilidade de ser igual a ti. Sim, submeto-me a tua vontade, meu centro, meu universo... Submeto-me, mas porque quero, à tua ambição, meu senhor. Meu amo, meu anjo... manda e te obedecerei. Eu e tudo que sou, que conquistei, somos teus. Estamos sob tua dominância, essa é nossa vontade! Nosso deleite! M

Sim, eu vou me apaixonar por você!

Sim, eu vou me apaixonar por você! É fato! É certo. É meu direito amar você. Sim, eu quero me permitir gostar de você. Do seu beijo, do seu cheiro, do seu toque. Que culpa tenho? Se não contar nada, você nada saberá. Então, é segredo meu. Esse segredo que grita que eu te amo! Que eu te quero. Só pra mim... mais ninguém. Sim, eu vou me apaixonar por você. Por cada centímetro seu, cada gota de suor, cada sorriso... Cada abraço, e na força desse abraço me sentir segura. Frágil que sou, meu amor, quando me oculto em seu peito. Refúgio absoluto de todos os meus medos. Mesmo que você não saiba, sou sua. Sim, eu vou me apaixonar por você. Por sua beleza, por sua sensualidade. Pelo deleite devastador de ver o gozo estampado em seus olhos... no toque quase doloroso da ponta de seus dedos em meu rosto depois do orgasmo... Ato, desejo, sexo... olhos abertos, olhos nos olhos... Você tem coragem de negar o sentimento? Sim, eu vou me apaixonar por você. Saudade já arranhando o peito

Uma Sombra

Tenho saudades de um rosto que já não sei se é real ou fruto de minha mente tão galopante. Tenho sonhado com alguém que não sei mais se conheço ou não. Tenho sentido a saudade de um abraço fantasma. Tenho repentes de lembrança... mas será? Sei que espero, dia a dia, hora a hora, pela presença desse ser quase imaginário. E os detalhes vão sumindo a cada novo instante. Outros rostos, outras bocas. E a fantasia se esvai qual areia entrededos. Já não sei se deliro, se invento, se recordo. Só sei que anseio pela presença quase etérea de alguém que me fez feliz. Será que fez? Alguém que me preencheu. Já não sei a qual termo. Alguém que fez a ausência tão presente quanto o sentimento. Se essa sombra errante realmente me quiser, eu espero pacata, alheia ao derredor. Se essa sombra adentrar o espaço, virtual ou real, aqui me encontrará. Todavia, a espera já me fatiga, já me estenua, eu que sou tão ativa. Culpa minha? Sim, por certo, esperarei. Mas não posso esperar pra semp

Distância

Há de ser compreensível o sentido do vazio. Há de ser sublimada a ausência involuntária. Há de ser descrito em ode, em verso, em soneto o abandono da saudade. Saudade, sentimento doloroso, prosa sem rima, sem amarra. Saudade que se instala como febre, como praga. Saudade que faz voar a mente incauta. Sentir dessa saudade é o bem que se torna martírio. É o querer que desfaz-se no brilho tão distante das estrelas no céu escuro. É desejar perto aquele tal que se faz ausente. É ansiar presente a simples consciência do querer. Paz não rima com saudade, pois que a distância enevoa a mansidão do coração enternecido. Qual destino que brinca com o imaginar alheio. E pensar é desejar mais perto. É querer, por certo, o aconchego do abraço. É fechar os olhos e sentir presente a quem longe permanece. Sonhar é a dádiva da separação. É sublimar a ausência, é tolher a saudade. Amar, porque é no amor que o sonho permanece físico. Paixão intermitente de desejo, de quereres. Amor que apr

O Frio da Alma

Imagem
Enquanto a carne descansa no respirar de outro peito, uma luzinha tênue invade os olhos fechados. Enquanto o carinho doce de mãos alheias discorre trilhas nos veios das costas, enquanto a pele arrepia ao deslizar do beijo de outros lábios. Enquanto o arfar feromônico refaz o torpor da fadiga... ainda assim a imagem se forma por detrás das pálpebras cerradas. E já não vale o encantamento do olhar renovado sobre o corpo nu. Já não vale a plenitude do orgasmo partilhado. Já não vale a intensidade do abraço, não vale a brasa que se resta em suspiro. E os dedos que brincam no transpirar do amante já tateiam a imagem esculpida no lado oculto da mente... outra pele. Um pedido de desculpas velado pela atenção desperdiçada. Pela incapacidade de dar-se a pleno. Pelo usufruto concedido do prazer estreante. Pois, no lado de dentro dos olhos, paira a estampa daquele que o outro não é. Paira a lembrança da paixão na tentativa do esquecimento furtivo. Paira a saudade de alguém que deveri

Menino Tolo

Ah, menino bobo. Menino meigo. Bonito como ninguém jamais viu. Menino tolo, que pensa que foge do meu amor assim, errante, livre. Pois que não és mais livre, menino, desde o segundo em que me fizeste perceber-te. Desde o instante em que meu coração parou por ti. Menino acuado. Com medo de se machucar. Já és meu, menino lindo. Já te possuo. E se não possuo, posso te comprar. Pede, que te darei. Exige, e será teu! O que quiseres, criança, terás! Pois que tenho tudo o que desejas! Basta que te entregues a mim. Queres a luz da lua? Trarei os raios de prata pra ti. Queres o sol e as estrelas? Guardá-las-ei numa caixa de noite com teu nome! Queres o mar, a areia, as sereias... tudo tenho para te dar, menino bonito. Queres diamantes feitos de rocha cósmica que brilham como teus olhos? Serão teus, meu amor. Mas, se queres apenas alguém que te ame, anjo caído em meu colo, saibas que tens meu amor plenamente. Tens meu querer, meu afeto. Se queres de mim somente carinho, te darei

Árvore das Fúrias

Como fingir sem confessar? O que dizer para que não saibas, não adivinhes? Que dentro do teu abraço eu sou fraca, eu sou frágil, eu sou fêmea. E só. Que a tua força derruba a minha e me extasia, me desarma, me doutrina. E que, nesse abraço, sou tua de alma e ego. Teu suor é a minha pele. Tua ordem é o meu comando. Como querer correr, esquivar-me? Se é no entorno dos teus braços que me encontro única. Se tens minha vida inteira encostada em teu peito. E se, quando me prendes assim com força, tornas liberto das fúrias o meu coração. Como conceber tamanha entrega, tentando fazer com que não percebas, se tudo em mim grita que sou tua? Se, presa assim no teu abraço, eu me abandono e me entrego a ti. Sonhando ficar assim. Eternamente presa do teu querer.

A Guerreira

Derrotar dragões era o mais fácil. Queria ver empilharem as pedras que ela carregava. Intrépida batalha, árdua e constante. Cada uma das luvas de malha de aço já puída, já destroçada. Sim, esse era o verdadeiro trabalho de Hércules. Nem pensar cruzar o rio das sereias antes de desamarrar o homem sobre a montanha. Aquele cujo pássaro mau arrancava um pedaço do ventre dia após dia. Era uma dança. Driblar o pássaro, esgueirar-se entre os espinhos, salvar o homem e vê-lo regenerar-se antes de o pássaro voltar. Cada um dos anões em suas funções e com suas armas. Todos derrubados antes de chegar ao imenso portão. Os raios faziam com que as pedras evaporassem. Se não fosse ágil, jamais passaria. Sim, uma façanha e tanto. Então, o grande mostro de lava. O gigante de um só olho soltando fogos mortais. Mas ela era uma sobrevivente. A valente guerreira que não sucumbiria antes de apanhar o diamante maior. Aquele que o ciclope guardava com a vida. Sim, uma amazona digna dos li